9 de dezembro de 2014


Hoje, é indiscutível a importância e a onipresença dos meios virtuais em nosso cotidiano. Com grande parte dos sistemas e serviços digitalizados e disponíveis online, compras e operações podem ser feitas no conforto do lar, relacionamentos são travados em a partir de blogs e redes sociais. Com as transformações que remodelam o cotidiano pós-moderno, surgem também novas atitudes e reações individuais.

Se, para o mercado financeiro, a maior liquidez garante segurança na hora de honrar dívidas e acordos, nas relações humanas, ela se caracteriza pela fragilidade. Num mundo de consumidores inveterados, onde produtos defeituosos e ultrapassados podem ser rapidamente substituídos por outros mais atuais e avançados, os indivíduos têm preferido se "amarrar" cada vez menos a seus pares. Nesse cenário, alteridades e discordâncias são um preço muito alto a se pagar quando se arrisca um compromisso sólido.

O medo de assumir esses compromissos leva os indivíduos a optar por relacionamentos facilmente solúveis, e a rotatividade torna-se palavra de ordem. As ligações abertas e virtuais prometem maior "segurança" emocional, uma vez que não expõem as partes aos riscos da intimidade e do envolvimento. Num relacionamento aberto, não há satisfações a prestar quando se quer "dar o fora". Para dispensar um amigo virtual, basta não mais responder seus emails.

A fragilidade também toma seu lugar nas relações familiares, com cada membro isolado em seu quarto, cada qual conectado em um computador diferente. Se o celular nos permite estar acessíveis a toda hora e em qualquer lugar, a contiguidade geográfica não assegura um relacionamento mais consistente. Estamos fisicamente juntos, espiritualmente separados.

A líquida racionalidade moderna valoriza laços cada vez mais frouxos, num contexto onde a satisfação individual é tão soberana que não tolera qualquer tipo de dificuldade ou prejuízo; onde a glamourização do sexo e a coisificação do homem aumentam o leque de consumo e satisfação, promovendo gradativamente a negação da dignidade do próximo.



(Resenha, por Jana. Sobre o Livro Amor Liquido, de Zygmunt Bauman - Publicado com recortes)