30 de março de 2010

Os corpos falam


Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

(Manoel Bandeira)

18 de março de 2010

Santo Agostinho

"O coração delicado sofre menos das feridas que recebe do que das que faz..."

S-E-P-A-R-A-Ç-Ã-O


"Perigosa é a separação seca, abrupta, cansada de explicações. (...) A angústia é uma falsa urgência. Todo casal separado deveria não fazer absolutamente nada dentro do prazo de cinco dias. Não decidir movimentação alguma, permitir o corpo esfriar o desaforo, talvez entrar numa clínica ou num spa para desintoxicação vocabular. (...) O amor se torna um crime impronunciável e mergulhamos numa mobilização desenfreada para limpar a memória, o computador e apagar as pistas. As fotos do orkut são excluídas, as senhas trocadas, as telas de proteção e os porta-retratos desaparecem, os livros afrouxam a costura sem a página da dedicatória, as cartas recebem a visita do picotador de papel. Até o chaveirinho mimoso, comprado no Brique da Redenção, é removido da argola das chaves."
(Fabrício Carpinejar)

15 de março de 2010

Filosofia

O mundo me condena,
e ninguém tem pena
Falando sempre mal do meu nome
Deixando de saber
se eu vou morrer de sede
Ou se eu vou morrer de fome

Mas a filosofia hoje me auxilia
a viver indiferente assim
Nessa prontidão sem fim
Vou fingindo que sou rico
pra ninguém zombar de mim.

Não me incomodo que você me diga
que a sociedade é minha inimiga
Pois, cantando nesse mundo,
vivo escrava do meu samba.
Muito embora vagabundo.

Quanto a você da aristocracia
que tem dinheiro, mas não compra alegria
Há de viver eternamente
sendo escravo dessa gente
que cultiva hipocrisia.

(Noel Rosa)

12 de março de 2010

O Analista


"O desejo do analista é fazer você singular, que você seja capaz de discernir aquilo que faz a sua diferença. Achar a sua singularidade e responsabilizar-se por ela. Isso só se obtem por uma redução das identificações, por uma precipitação, destacando aquilo que sempre se repete. Aquilo que não tem nome nem nunca terá sempre se repete no mesmo lugar. Fato que faz com que Jacques Lacan diga que o real é aquilo que volta sempre ao mesmo lugar."

(Jorge Forbes)

Freud

Beleza, tô acima da média...
Sou eu e o céu novamente
o mesmo céu
o mesmo eu
ambos diferentes.

(Fábio Rocha)

10 de março de 2010

AMOR-PRÓPRIO X EGOÍSMO


Temos misturado e confundido dois termos que são, na verdade, antagônicos: amor-próprio e egoísmo. Temos acreditado - catastroficamente - que, ao desenvolvermos uma boa auto-estima e respeitarmos nossos desejos, deveremos - quase como numa conta matemática - desconsiderar o outro. Como se numa relação houvesse espaço para somente um ser respeitado e, consequentemente, o outro ser desrespeitado.

Temos agido equivocadamente por apostarmos que em detrimento do que o outro é, deve prevalecer sempre o que eu sou. Primeiro a minha vontade. Depois, se for cabível, dou atenção ao que o outro deseja. E se ele não aceitar que assim seja, então que ‘vá às favas’.

Temos sido ingênuos o bastante para acreditar que se o outro não nos aceita como somos é porque não gosta de nós o suficiente e, portanto, não merece estar ao nosso lado e desfrutar de nossa companhia.

Ledo engano. Relações que valem a pena são aquelas onde há espaço para todos serem respeitados, porque existe consciência e disponibilidade para conhecer a si mesmo e ao outro. O intuito tem de ser o de investir num relacionamento cujo objetivo é servir de caminho para a evolução de todos os envolvidos, tenha ele o nome que for: amizade, parceria, parentesco, casamento, namoro ou qualquer outro.

Mas temos perdido a capacidade de acolher as diferenças, de aceitar aquilo que nos obriga a nos olhar de frente, sem as máscaras. Não queremos rever nossas escolhas. Não queremos mudar para nos adaptar. A partir das teorias atuais, mudar pelo outro não faz parte das regras. Não combina com amor-próprio. No entanto, por conta da inflexibilidade e da distorção sobre o que venha a ser o tal do amor-próprio, estamos todos morrendo de solidão.

É... eu sei que não dá para ser profundo com todo mundo. Não teríamos tempo nem disponibilidade interna para tanto. Somos naturalmente seletivos. Por isso, escolhemos (ou pelo menos deveríamos escolher) certas pessoas para quem nos entregamos a ponto de nos mostrar sem máscaras, sem meias-palavras, sem pensar tanto em como devemos nos comportar e o que dizer ou em quem ser a cada instante...

Rosana Braga